domingo, 28 de novembro de 2010

Simples

A total falta de jeito dela com crianças, o encantava. Manuela tentava brincar com aquele pequeno ser, que parecia mais forte do que ela. Não lhe dava atenção, jogava os brinquedos no chão e emitia sons indecifráveis. Ela apenas sorria e passava a mão em sua cabecinha. Luís observava a cena escondido atrás da porta. Álias observá-la era uma das coisas que mais o deixava feliz. Como era pura e simples. Simplicidade... Uma qualidade tão pouco apreciada. Nela, era tão encantador. A forma como sorria, sem preocupações, o jeito que seus cabelos castanhos lhe caiam no ombro, leve. O modo como mexia as mãos. Seu jeito doce e ao mesmo tempo instigante de andar.
Decifrá-la era fácil. Sentia. E sabia o que sentia. Não tinha cicatrizes da vida. Não tinha medos, não tinha frustrações. Era puramente simples. Não sabia lidar com crianças e não escondia isso. Amava Luís, e apesar de não dizer todos os dias, ele sabia porque, quando chegava sentia o sorriso e o olhar apaixonado dela. Manuela ficava vermelha, o corpo todo tremia quando ele estava por perto. Ela não se importava em esconder e esses detalhes Luís nunca esqueceria.
A observava em sua perfeita imperfeição. A observava de longe, não querendo interferir naquele momento tão dela. Mas acabou emitindo um som sem querer, e sentiu os olhos dela pousarem sobre ele, rápidos.
Levantou-se e disse a Luís:
— Você estava escondido me olhando? – e sorriu, os dentes brancos contrastando com seus olhos negros. Sua voz extremamente doce e calma.
—É. Estava.
—Por que?
—Porque eu gosto de te ver.
—Por que?
—Porque a gente gosta de ver aquilo que ama.
—Então, você me ama?
—Eu amo.
—Eu já sabia.
—Sabia como?
—Sabendo. Amor a gente sente. Você sente o meu?
—Eu... Eu não sei...
—Eu te amo.
—Tenho que sentir o amor que você tem?
—Pega na minha mão. E diz o que sente.
—Você treme um pouco. E está suando frio.
—Você sente isso então?
—Sim.
—É amor. – e sorriu, simplesmente.

sábado, 2 de outubro de 2010

Se deixar

Ela se sentou um pouco distante dos trilhos do trem. Seus pensamentos voavam longe, enquanto estava ali, completamente só. Ventava.
Pensava em muitas coisas. Desde sua prova, passando pela saudade de seu pai, até chegar nele. Sempre havia um misto de tristeza e felicidade quando pensava nele.
Mas, pensando nele ela era levada a pensar nela. E como é difícil pensar em nós mesmos. Como dói às vezes admitir que havia dentro de si medo, erros, dúvidas e dor.
O trem estava vindo. O barulho da maria-fumaça. Ficando cada vez mais próximo. Seus pensamentos aumentavam a medida que o trem se aproximava.

Ela era um clímax. Tudo era assim na sua vida. Estava sempre no ponto crucial. Sempre pronta para o que viria a acontecer. O trem se aproximava. Todo clímax deveria ter um desfecho. Quando o trem passasse por ela e depois desaparecesse, seria o desfecho. E sua vida? Não, sua vida nunva tinha uma conclusão.

Tudo era clímax. Tudo era crucial. Cada palavra importava, cada atitude, mais ainda. Quem era ela? Qual seria seu despecho?
O trem passou na sua frente. Rápido, o vento aumentou, levantando seus cabelos.
Algums minutos em que viveu aquele clímax, fez mais perguntas a si mesma.

O trem estava indo embora. E e ela ficava. E foi então que descobriu.
Era preciso ser forte, e ao menos uma vez se deixar levar.

sábado, 25 de setembro de 2010

Seja...

"Seja. Me leve daqui, me leve embora, me faça mudar de ideia, seja quem eu preciso."
"Então seja minha."
"Eu sempre fui. Você sabe. Você me conhece."
"Não. Me diga. Me diga suas verdades, eu quero saber."
"Você é minha única verdade."
"Não sou. Você sabe."
"Seja..."
"Eu quero ser, me diga, o quê?"
"Você sabe... Seja..."
"Eu serei meu amor, basta você dizer o que quer de mim, e eu farei."
"Ah... Eu quero que você seja."
"Não chore... Por favor, não chore... Me abrace. Isso, assim. Me abrace e eu serei."
"Você é."
"Sou?"
"É."
"Desde quando?"
"Desde sempre."
"Sou... Sempre quis ser. o 'ser' de alguém."
"Ah, você é... Como nunca percebi antes..."
"Agora me diga, sou... Sou o que?"
"É. Você é. Minha parte mais bonita, meu amor mais intenso, minha felicidade mais pura, meu abraço mais sincero, meu amigo mais verdadeiro, meu namorado mais amado. É minha calma, minha paz, minha certeza, minha plenitude. Você é... Você é tudo. Mais do que eu mereço, tudo o que eu sempre quis. Eu nunca mais quero me separar de você."
"Você não vai. Uma vez sendo, sempre serei."
"Você sempre será..."

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sumir

Você cansa das coisas, das pessoas. Tudo te decepciona, tudo te atinge. Você está frágil e carente e ninguém se importa. Você quer desistir, você não vê recompensa em nada. É injusto, é cruel, é doloroso.
Tudo o que você quer é sumir. Desaparecer e se quiserem, eles virão atrás de você.
Não faz falta para ninguém, não tem nada para acrescentar.

Sumir. Seu desejo mais profundo. E chorar, como há tempos não chorava, até se esvaziar por completo.
Fazer um drama, jogar tudo pro alto, desistir, ir embora de uma vez, acabar com todas as coisas que já construiu.

Não importa mais. Você cansou.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ramblin' Woman

Tirou as luvas vermelhas, jogou em qualquer lugar. Nada mais importava. André andou até a sala e olhou tudo, buscando vestígios da passagem de Ana. Nada. A sala em sua perfeira desordem. Almofadas espalhadas em cima do sofá. A tv desligada, as caixas de dvds abertas. André gostava de filmes, Ana de livros.
Em seu quarto, a mesma coisa. Cama desarrumada, roupas espalhadas, cds jogados, janela fechada. André gostava de rock, Ana de música clássica. André gostava de escuridão, Ana de luz.
Não tinham nada em comum exceto a vontade de estarem juntos. Agora, nem isso.
Ana entrou na vida de André de uma forma rápida. Ele quase atropelou aquela garota carregada de livros que andava destraída. Em vez de reclamar, ela sorriu, aceitou as desculpas daquele homem sério e continuou seu caminho.
Foi como um feixe de luz. André não podia ver aquele ser tão puro passar por ele, sem fazer parte da sua vida.
Perguntou seu nome "Ana Clara." Ela tinha olhos lindos... "Faço faculdade de letras." "Não.. Não tenho namorado." Aquele sorriso tímido... O rosto pálido ficando vermelho... Tão linda!
Alguns cafés se foram. Alguns risos tímidos dela. Algumas palavras que podiam revelar quem era. Bastava estar atento. Ana tinha sonhos, tinha algo no seu jeito de falar. Algo em seu cheiro. Ela era única, vivendo em um mundo paralelo.

E como uma luz, Ana vai. Pega suas coisas, deixa um bilhete na geladeira. Letras amassadas, papel sujo de canela...
"Well I love you baby
But you got to understand
When the Lord made me
He made a ramblin' woman
He made me, he made me"


Era uma música. Era uma despedida.

Deixou um livro em cima da mesa. Eram poemas ou músicas, não importava. André nunca iria ler mesmo.
Aceitava a ausência dela. Mas, quando a solidão era grande, ele abria o livro e sentia o cheiro das páginas, que o faziam se lembrar da sua luz.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

?

Ela era apenas dúvidas. Não haviam certezas sobre o que fazer, o que pensar, o que sentir. Não gostava de se sentir assim, mas era invitável. Querer algo, e logo depois desistir. Sempre complicada, mas sempre decidida. E nem isso mais.
Ela era dúvidas sobre tudo. Precisa de alguém para dizer, 'eu quero isso de você' ou 'faça algo concreto.' Não havia ninguém capaz de decifrar seu pensamento, nem ela mesma. Sempre exigindo dos outros... De si... Tudo era muito difícil. Tudo era complicado.

Ela só queria algumas certezas, as certezas de antigamente.
Ela só queria algo concreto.
Ela só queria que alguém adivinhasse o que ela queria.

Ela só queria querer.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Não tem ninguém

"Eu sinto a falta dele." Admitiu em uma fração de segundo, a verdade. Sentiu cada sílaba gravar em seu coração.
Uma tatuagem.
Uma marca.
Uma ausência.
Como o vento que corta de repente o rosto, a verdade aparece. De fato sempre existiu, mas hoje ela se manifestou. "Eu sinto a falta dele." Disse em voz alta, para se confrontar com a realidade. Ela sente... É o que mais ela sente. De todos os esforços para se livrar da lembraça de Mark, nada dava certo. Ela nunca iria esquecer de algo que estava nela.
Quando as coisas são certas, mas as pessoas temem fracassar, sempre alguém desiste. Mas desistir não significa superar.
Era tudo muito certo para ela. Mas não para Mark.
A verdade naquele momento, era uma só. Ela podia pensar milhões de coisas, arrumar milhões de explicações, mas a verdade era uma só. Ela sentia a falta dele. E nada poderia mudar isso, agora que as palavras já haviam sido marcadas nela. Era necessário se acostumar com o nada.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Acidez

Sabe o que é uma coisa ácida? Poucas pessoas gostam. Na verdade, é um gostar amargo. É algo que é simplesmente ácido. Doa a quem doer. Se você não gosta, problema. Sua forma é essa. Sua essência é essa. Nunca deixa de ser porque alguém quer. Você deve aceitar.
E ele é assim. Faz o que quer. Porque sabe o que sente. Faz as escolhas dele. E aguenta as consequências. Diz o que pensa. Na cara. É forte e direto. Não existe morno. É muito frio, ou quente demais. E quando quer, luta.
E eu admiro todo esse poder que ele tem de pensar antes de fazer algo, e levar tudo até o fim. Ele sabe quem ele é. E não obriga ninguém a gostar dele.
Assim como uma coisa ácida, ele é simples e ao mesmo tempo complexo. No começo você pode estranhar o gosto, o jeito de ser, mas depois você se encanta com tanta personalidade, e ganha um amigo para a vida toda.

Parabéns Dante, 400km de parabéns.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Queda Livre

Caiu. De uma forma rápida, magistral. A bicicleta estava em alta velocidade. Ele não esperava pela pedra no meio do cominho. Justo na decida? Mas não havia tempo para parar, a queda era consequência da intensidade. Queria descer rápido, sem se importar com os obstáculos. Mas a maldita pedra tinha o parado. Na verdade, passou por cima da bicicleta, e caiu girando. Uma queda invejável. Podia ver as árvores de relance, e ao tocar o chão sentiu a velocidade diminuir. Não fazia esforço para parar. Queria correr riscos, aguentar as consequências. Deixou rolar, raspar nas pedras. Fechou os olhos, queria apenas sentir. Havia grama, e algumas coisas machucavam. Foi tudo muito rápido. Até que novamente, havia outra pedra. No começo ela fora causadora de tudo. Deu o impulso para aquela queda alucinante. Agora ela interrompia o giro no chão. Bem na altura dos ombros. Parou bruscamente. Deitou de barriga para cima. Não porque era mais confortável. Mas porque a pedra quis assim.
De olhos fechados. Sentiu a dor em cada parte do seu corpo frágil. Respirava fundo. Tudo doía. E sua perna sangrava. Nos joelhos. A calça rasgada. Ele sentia o sangue pulsar. Quente, escorria pela perna. Seu rosto. Seu rosto sangrava. Tudo doía. Respirar doía. Mas mesmo assim, ele sorriu.
Estava vivo, não estava? E era bom se sentir assim. Seu corpo lutando para continuar. Ele não se importava. Gostava de testar seus limites. Sempre um pouco mais. Sempre além de algo. Ele sorria. De olhos fechados, sentia o sol queimar sua pele, e imaginava que o mesmo sol, iluminava seus dentes. Naquele sorriso torto. Aquele sorriso que só quem descobre uma verdade pode ter.
Abriu os olhos. Céu azul, sol forte. Alguns pássaros. O silêncio da floresta. O cheiro do sangue. A dor no corpo. Sorriu, como se tivesse atingido o efeito esperado. Começou a rir. Se levantou com dificuldade. E riu ainda mais alto. Em pé, olhou para o morro que acabara de descer rolando. Riu mais alto. E começou a subir para mais uma vez terminar sua descida de bicicleta. Só para provar que nada poderia fazê-lo parar.

sábado, 29 de maio de 2010

Entre Estrelas

Anita olhou para o céu. Da janela da sua casa ela se sentia mais próxima das estrelas. Minúsculos pontinhos brilhantes acima dela, lhe passavam uma sensação de paz. Era mais uma daquelas noites em que todas as sensações aparecem de uma vez. Sentimentos que só poderiam surgir se ela estivesse sozinha. Ela e suas estrelas. Cada pontinho parecia olhar para ela. Como se cada uma das estrelas estivesse ali por um motivo. Não havia nada acima das estrelas. Ou será que havia? Não, não havia... Se existia algo além da compreensão humana, esse algo estaria entre as estrelas. Quem disperdiçaria a chance de viver entre as estrelas? Naquele momento em que olhava para o céu, sua vida parecia um pouco mais real. Algo mais verdadeiro. Ela existia. Tinha consciência disso. Naquele breve instante. Tudo pareceu certo. Anita sentiu algo estranho percorrer seu corpo. Um arrepio leve, algo dentro dela. Alguma coisa que estava vivendo entre as estrelas, estava nela também.

As estrelas estavam vivas.
Anita estava viva.
O que teria feito isso acontecer?


Algumas pessoas sentem por um breve momento, um momento muito, muito breve, que tudo tem uma explicação. E em uma fração de segundo, essas pessoas descobrem o mistério da vida. Depois passa, e elas já não sabem de nada, porém, naquele breve momento, elas souberam de tudo. Todas as verdades.

As estrelas estavam vivas.
Anita estava vida.
O que teria feito isso acontecer?


Ela não sabia explicar ao certo, mas, de algum modo sentiu que aquele arrepio que pecorria seu corpo, era o que fazia Anita estar viva.
Sua alma talvez seria como uma estrela. Brilhante e única.
Quando Anita morresse, seu corpo não existiria mais. Porém, se sua alma fosse como uma estrela, essa sim, irradiaria luz por toda a eternidade.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Será que vale a pena trocar minha vida certa, por um segundo ao lado dela? Bem... Depende desse um segundo.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Foi

"Por que você não vai embora de uma vez?" Ana levantou os olhos cansados e fitou Joe. "Você sempre esta indo embora... E nunca vai..." "O que você quer de mim?" "Acaba com isso logo. Não preciso dessa mentira." "O que é uma mentira Ana?" "Sua vida." Ela estava sentada no sofá da sala. Ele em pé, na sua frente. Ana olhava para os olhos dele, que tentanvam fugir desesperados. Ela havia tocado no assunto. Os cabelos negros de Ana caiam cobrindo parte de seu rosto. Ela estava cansada. "Eu fico melhor sozinha." Ela disse, o forçando sutilmente a continuar o assunto que Joe tanto queria evitar. Os olhos dele mostravam o desespero. Depois que o assunto já havia começado, não há mais volta. Seria hipócrita demais fingir que nada estava acontecendo. "A cada dia você está mais distante. Você deveria ir embora logo." "E você?" "Eu fico melhor sozinha. Vou me sentir melhor, sabendo que não tem um estranho fingindo que me ama na minha casa." Silêncio. Ela havia dito. Não foi uma pergunta como tantas vezes Joe achou que seria. Ela afirmou. Estava certa. Não havia amor ali. Havia necessidade. "Não sei se eu consigo sem você." "Não me importo com você Joe." Ela dizia, sem desviar o olhar dele e o obrigando a encarar seu olhos também. Joe era fraco. E mesmo sem amar Ana, ele queria continuar com ela. Porque sempre soube que ela era tudo para ele. Ela o fazia viver. Mas para os outros. Ela passava a vida dela para ele. E não recebia nada em troca. "Você não se importa mais comigo?" "Não." "Se eu for, eu não voltarei." "Então vá." "Vou me lembrar de você, Ana." Ela ficou em silêncio. Esquecer Joe não aconteceria. Mas ela evitaria as lembranças.
Ele se foi e fechou a porta. O casamento havia durando longos 10 meses. Acabou. Ela olhou em volta, procurando alguma coisa que pudesse a fazer se sentir completa. Não havia nada naquela casa, além das lembranças dele. O perfume de Joe continuava no ar. Aquele perfume que Ana sempre gostou. Agora dava enjoo. Ela se levantou, e deitou em sua cama, no seu quarto. Estava escuro, não era possível enxergar nada. Mesmo assim, ela sentia a presença dele em algum lugar. "Sera que ele voltou?" Ela pensou e logo viu que era impossível. A porta estava trancada, ele se foi para nunca mais voltar. Mas ainda sentia a presença dele. E como que a verdade se mostrou, Ana percebeu que naquela casa ela sentia a presença de Joe dentro de si. E disso, ela não tinha como escapar. Por mais longe que ele estivesse, a sua presença seria sentida para sempre. Nela mesma.

domingo, 25 de abril de 2010

Mark... De novo.

Para Mark, as coisas se tornavam reais no momento em que eram escritas. Nada tinha tanto valor na vida dele, do que as palavras. Nada podia influenciar tanto Mark. No momento em que escrevia, seu sentimento se fazia concreto. Como se ele pudesse pegar, segurar entre suas mãos. No momento em que escrevia, aquilo que já era real, se tornava eterno. Era como perpetuar a felicidade, o amor. Tudo se tornava mais verdadeiro. Ele podia dizer para Kathy tudo aquilo, mas no momento em que exprimisse seus sentimentos eles poderiam se perder ao vento. Daqui a alguns anos, ela poderia não se lembrar das palavras exatas. Mas, se Mark escrevesse, seria eterno. Kathy poderia sempre ler o que ele havia escrito, e seria como se afirmasse tudo de novo. O fato de escrever era como fazer uma tatuagem em alguma coisa. Nada poderia tirar a intensidade do momento. Ninguém poderia duvidar daquilo tudo. Estava escrito. Estava feito. Para sempre, desde agora.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mark. Kathy.

—Quero sempre que você se lembre de mim – ela sorriu, e ficava cada vez mais perto dele.
—Não posso me lembrar, do que nunca esqueci.
Perto demais. A pele dele era macia, assim como as maças do rosto de Kathy. A mão entre os cabelos negros de Mark. As mãos dele seguravam o pescoço fino dela. Tudo era uma mistura perfeita e arriscada de amor. Ela fechou os olhos. E deixou se levar pela multidão de sentidos que a fazia ficar sem respirar. Seu coração nunca batera tão rápido, sua barriga nunca sentira tanto frio, sua pele nunca havia ficado tão arrepiada ao toque de uma pessoa. Mas claro, ele não era uma pessoa comum.
Mark não tinha consciência do rumo que poderia estar tomando. Será que haveria problema em apenas um beijo? Ele não conseguia pensar no momento. A presença e cheiro de Kathy não o deixam sequer respirar.



Faz parte do meu livro. Faz parte de mim.

quarta-feira, 3 de março de 2010

É um longo fim.

14 de abril de 1992

"Hoje fazem dois anos, e você já está casado, e com filhos. Você provavelmente já esqueceu de tudo que se passou entre a gente. Mas eu não. Sua esposa, ela é tão superficial. Eu não quero parecer orgulhosa, mas é como se eu subesse que você fez a escolha errada. Que eu era a melhor. Talvez no fundo, você saiba. Essa vida que você tem levado nesses últimos anos, tão diferente da que eu te mostrei. Tudo entre nós, era intenso. E eu fui fundo, para viver cada segundo de tudo. Eu senti as emoções, eu vivi momentos intensos ao seu lado. Eu dei tudo o que podia. Eramos um só. Mas você não podia me acompanhar. Você nadava nas superfícies, enquanto eu mergulhava fundo, sem pensar. E hoje fazem dois anos que você se foi. Sua vida perfeita, sem brilho, natural. Sem a poesia que eu era capaz de dar. Mas, talvez você seja feliz assim. Se arriscando pouco, vivendo quase nada.
Besteira minha achar que você se importa. Você nem lembra de nada mais. Deve ter jogado fora todas as minhas fotos, as minhas cartas... Ja não se lembra de como éramos felizes. Não, você é casado, tem filhos. E uma vida perfeita. Já não posso fazer mais nada, além de dizer o quanto eu te amava, e do que você causou em mim quando se foi. De tudo que você me tirou, da forma como me senti abandonada. Com se você pudesse sofrer com isso. Você nem lembra mais de nós..."

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Viver.


Quantas vezes você já ficou sem ar? Quantas vezes você já se sentiu como se tudo a sua volta girasse, e o mundo fosse só aquela pessoa? Aquele olhar? Quantas vezes você já deixou de fazer algo por você, e pensou nos outros? Quantas vezes você já chorou durante uma noite e pela manhã sentiu que havia nascido de novo? Quantas vezes suas dúvidas mais profundas foram respondidas em um segundo? Quantos problemas se resolveram, quando você não pensava neles? Quantas vezes você já sorriu para alguém na rua, e essa pessoa sorriu de volta para você? Quantas vezes você não se importou com nada,e tudo deu certo? Quantas vezes você já se sentiu feliz, sem saber porque? Quantas vezes você já amou aguém que nunca conversou? Quantas vezes você se apaixonou pelos olhos de alguém? Quantas vezes você já se sentiu como se tudo tivesse uma explicação? Quantas vezes você já sentiu falta de um pessoa, sem saber porque? Quantas vezes você ouviu a mesma música, só para ter a mesma sensação durante o refrão? Quantas vezes você chorou de felicidade? De saudade? De amor? Quantas coisas você já fez por alguém, sem esperar nada em troca? Quantas vezes você já se perdeu, e se encontrou? Quantas vezes você viveu, e não simplesmente existiu?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Liberdade.

Dessa vez, nada de textos de amor, de declarações poéticas. Quis escrever algo diferente do que eu escrevo.



"Não tem nada certo" - Lídia disse olhando para o mar. Ouça Eduardo, Ouça! "Eu não acho." A noite já era escura demais. Ela deveria ter ido embora antes, mas como sempre não conseguiu. "A gente... Eu acho melhor não" E movia os lábios de uma forma doce e leve. Como se tivesse medo das palavras. "Eu quero tentar. Você vale a pena" Então, ele achava que Lídia valia a pena? Por que? Afinal, por que? "Por que?" "Porque eu te amo. Achei que fosse o suficiente para você." "Para mim sempre foi Eduardo." O vento, bateu de leve no rosto de Lídia e ela sentiu a pele arrepiar de frio. Ao mesmo tempo em que estava feliz por estar ali, ela se sentia desconfortável. "Eu amo você" Eduardo repetiu, esperando Lídia dizer algo. "Você quer saber da verdade?" "Me conte então, meu bem" Meu bem... O que ele pensava para chamá-la assim? Meu bem... era tão antigo! Era da época em que as coisas estavam bem entre eles. Se é que algum dia, já estiveram. "Paulo." A boca dela tremeu ao sentir o peso do nome. Paulo. Paulo era a causa daquilo tudo? Paulo era o problema? "Eu acho que não posso mais continuar com você Eduardo. Não mais." Ele ficou calado e Lídia sentiu o que ele pensou. "Você não me ama." "Não mais" Aquilo soava como o fim. O fim de tudo. Ela podia ter recusado o pedido de Eduardo. Ir embora antes da noite, e não vê-lo. Ele entederia que ela não o queria mais. Mas não. Lídia quis enfrentar. Quis dar o toque de fim. Quis olhar nos olhos dele. Deixar tudo claro. Não existe mais nós. Era corajosa. Enfrentar o amor dele, e suas dúvidas. Tudo em um só golpe. "Você ama Paulo?" Não, ela não amava! Paulo surgiu, no meio das brigas dela e de Eduardo, fez com que ela acordasse para tudo. Paulo abriu os olhos dela. Mas ela não o amava. Usava Paulo como desculpa. A verdade, Eduardo nunca poderia entender. "Eu não sei" Lídia respondeu, olhando para o alto. O céu escuro, a lua cheia. As estrelas. O mar. "Eu vou embora Lídia. Você não me quer mais. Eu não vou insistir." "Então vá" Ela estava abrindo mão dele. Deixando que ele voasse para longe. Para nunca mais voltar. "Você vai sofrer?" "Não." Ela disse, convicta.
Ele foi. Andou para longe, e Lídia esperou que o barulho de seus pés na areia parassem, para poder pensar.
Sozinha. Ela sabia que Paulo estava namorando, e não se importava. Não o amava. Eduardo foi embora. Ela não sentia nada por isso. E então, qual a razão para o fim?
Lídia queria. Queria acabar com tudo. Queria ser livre. Queria toda aquela praia para ela. A lua, o mar, as estrelas, o vento. Era tudo dela. Era isso que Lídia queria. Um momento sozinha. Chega de pensar sempre nele. Ela havia se esquecido das coisas que gostava de fazer. Não caminhava mais na areia. Não tocava piano mais como queria tocar. O fato é que Lídia queria estar sozinha. Estar sozinha. Mas não era assim que ela se sentia. Lídia estava livre. Naquele momento, naquela noite em que a lua etava cheia, valeu a pena ter dado o fim. Teve um sentido maior. A liberdade que Lídia buscava, ela não queria dividir com ninguém. Era dela, e esse sentimento de posse a fazia bem. Não havia dúvidas de que era a coisa certa. Um alívio respirar aquele ar sozinha depois que Eduardo se fora. Era como sair de um romance com muita dor.

Liberdade. era esse o sentimento pelo qual Lídia terminou tudo. E valeu a pena. Sempre vale, quando se está bem com você mesmo.