domingo, 20 de julho de 2014

Em algum papel encontrado nas arrumações esporádicas

Ela se levantou rápida, desviando o olhar e o fixando na porta. Ele estava parado, imóvel. Parecia com medo. Ela observou cada músculo contraído do seu corpo. Lembou-se do beijo dele e um calafrio percorreu suas costas. Estava entregue, mas ele não poderia saber. Ela andou um pouco. passou a mão pela sua cintura e a apertou de leve, como fazia quando ficava nervosa. "Você voltou" Suas palavras pareciam sair trêmulas. Ela tinha medo que falasse aquilo que não podia, que sentia. Seus olhos estavam vermelhos de chorar. Mas era difícil não esmorecer naquele momento. A lembrança que tinha dele não poderia nunca, jamais se comparar a sua presença. Andou até a porta. Ouviu sua respiração, sentiu seu cheiro. E, ao olhar nos seus olhos, pensou estar no paraíso. Eles a tragavam. Eram azuis, tensos. "Você voltou?" A afirmação se tornou dúvida. Por que ele não a olhava como antes? Parecia se controlar. Parecia cerrar as mãos para impedi-las de tomá-la pela cintura, beijar-lhe os olhos, sentir seu corpo quente, seu coração acelerado. Ele podia ver, na sua blusa decotada, o esforço que ela fazia para não parecer ofegante. Mas seu colo se movia, e ele podia ver os ossos por baixo da pele dela. Ouviu sua respiração. Andou até próximo demais dela. E, pensando em apenas tocar no seu rosto, a amou por completo.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Em busca

Meu coração tem o peso da paz e talvez você nunca entenda o que isso quer dizer. Meus olhos são feitos de água de cachoeira e sempre correm em direção ao que acreditam pertencer. Só sei sentir o cheiro das flores e escutar o canto dos pássaros. Meus pés sentem a grama e mais nada. E minhas mãos só sabem colher bons frutos. Minha pele só reconhece o toque do vento. Minha vida é feita de encontrar belezas. Nos dias, nas pessoas e até mesmo nas tristezas.

sábado, 5 de julho de 2014

Lucy in the sky

Lúcia olhou em volta. A velha dúvida sobre ter ou não feito a escolha certa pairava sobre ela. Em todos os momentos de tristeza, desejava poder estar em outro lugar, com outras pessoas. Lúcia sabia que havia feito uma escolha quando decidiu ficar. Sabia que haveria mais pelo que batalhar. Mas sua mente sempre voltava para o passado. E se tivesse virado por outro caminho e nunca encontrado aquelas pessoas? E se, e se... Lucia parou. Respirou fundo, o ar entrando em seus pulmões e quase chegava a doer. Percebeu-se ali. E tudo o que havia em volta, eram suas conquistas. Havia muita coisa. Ela sempre queria mais, mas era necessário aprender a cuidar do que era seu. Sem pressa levantou-se. Um ou dois livros estavam no chão. Olhou para eles e percebeu seu celular do lado. Algumas mensagens do que um dia foi algo. Apagou todas. Não há vestígios, então nada aconteceu. Gostava da sensação de limpeza. Deixa o dia mais leve. Decidiu não pensar nas escolhas que havia feito, e se eram ou não boas e certas. Decidiu agarrar-se ao que tinha. E o que tinha, descobriu, era tudo.