quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cartas que nunca serão entregues

" Hoje pensei em você. Me surgiu como um vulto. Foi a sensação horrível de estar te esquecendo aos poucos. Não lembrar do seu jeito, de quem você era comigo. Te amei de forma sólida e madura. Por que seus sentimentos oscilam ao menor vento? Por que você causou tanta dor na pessoa que sempre desejou o melhor para você? Você tem ideia do que fez, ou você pensa estar certo? Foi muito o que sofri por você. De todas que passaram pela sua vida, fui a que menos mereceu esse sofrimento. Às vezes, te odeio."

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Vibrante da primeira letra até o último ponto final

Ela entrou sem pestanejar e jogou sua bolsa colorida no sofá. Ainda bem que a casa é loft, pensou indo para cozinha pegar um copo de água e observando a sala vazia e quase mal iluminada, exceto pela janela que deixa transparecer alguma luz do luar. Bebeu, devagar, o líquido cortando a garganta, como se não estivesse acostumada a algo tão simples. Aquelas férias deveriam ser um espetáculo, certo? Casa na praia com os amigos mais íntimos e alguns desconhecidos que, se tudo desse certo, seriam solteiros e bonitos. Tudo estaria, de fato, perfeito se não fosse por um motivo: Caio. Um ex-romance arrebatador que terminou de modo efêmero e deixando altíssimas mágoas combinadas com tensão sexual. Na mesma casa. Tentando conviver pacificamente com o único cara que ela realmente gostou, na mesma casa. Era necessário controlar todos seus movimentos quando ele estava por perto, para não correr o risco de pular nos braços dele o beijar até que se esquecessem do que os levou ao fim. Seria mais fácil se ela pudesse controlar, também, o ciúme que sentia quando qualquer espécie feminina chegava perto dele. E então estava lá, bebendo a água e olhando para a sala relativamente grande, onde os sofás ficavam virados um para o outro e a televisão era um simples objeto de decoração. Ninguém ficava lá. Exceto quando voltavam das festas e se reuniam para conversar e tentar esquecer do que fizeram. Quando quem voltava? Todo mundo. Os amigos, o ex, os amigos do ex. Todos os adolescentes cheios de hormônios que estavam hospedados na casa para férias incríveis, antes do primeiro ano na universidade. Ela ainda pensava sobre todos esses aspectos, e de como tinha sido infortunada em ficar na mesma casa do cara que ela jurou que nunca mais veria na sua vida. E não porque não gostaria, mas porque eram tão diferentes que suas vidas não poderiam jamais, se cruzar novamente por um simples acaso do destino. E que acaso! Estavam os dois lá, sob o mesmo teto, respirando o mesmo ar, tomando café na mesma mesa e tendo que saber exatamente com quem cada um ficava, e como ficava. As férias eram para que Nádia se divertisse. Badalar até de madrugada, tomar quantas tequilas ela achasse necessário e dormir na praia se precisasse. Mas ao ver seu ex-(alguma coisa que deveria ter sido, mas não foi) ela simplesmente não conseguiu controlar o ímpeto de beijar qualquer cara que aparecesse. Qualquer um não. Os mais bonitos, de preferência. E quando não haviam os mais bonitos, qualquer outro que fosse homem e que Caio poderia saber. Já estava uma paranóia. Ela tinha que sair. Toda noite. Não podia dar a entender de que preferiria ficar em casa, vendo televisão enquanto ele saia e ficava com quantas vadias fossem. Era necessário badalar, e além: beijar. Mais além do que beijar o homem mais gato que ela pudesse encontrar na festa, era necessário estar deslumbrante. Nada na roupa, maquiagem, cabelo ou até mesmo no modo que ela se comportava, falava, andava e sorria, era despretensioso. Tudo tinha um objetivo, uma meta: Caio. E tentando chamar a atenção de modo “discreto” dele, acaba não sendo difícil atrair a atenção de qualquer homem que estava por perto. E com isso seu saldo: dos sete amigos homens na mesma casa que ela, quatro Nádia já havia beijado. Em momentos atenuantes, de fato. Mas beijo é beijo e isso não muda. A porta da sala abriu como se tivesse sido chutada, e pela cara com que Caio entrou, ela provavelmente havia. Ele andou até a sala e suspirou. Virou-se e viu que Nádia o observava, ainda com o copo na mão, em silêncio. Não havia ninguém mais em toda a residência, ou talvez perto, no jardim, na praia. Ninguém. Todos seus amigos estavam na grande festa de algum desconhecido que morava longe. Ela tentava absorver essa informação, junto com a surpresa. Não esperava ficar tão só com ele. Parece que Caio também não esperava por isso. Parecia um pouco incrédulo de vê-la ali. Nádia estava com uma regata branca, que despretensiosamente valorizava seus seios. Vestia um jeans justo que modelava seus quadris e suas coxas. Seu cabelo castanho claro estava desarrumado em um coque baixo, que deixava alguns fios soltos, a única coisa que tapava seu pescoço fino e moreno. Olhava para ele com aqueles olhos enormes, cor de mel. E piscava. Cílios que hipnotizavam. Cílios? Quem repara em cílios? Ele reparou. Assim como reparou que a boca, vermelha de Nádia estava molhada. De água, que era o que ela bebia, mas poderia ser outra coisa? Ele balançou a cabeça para afastar os pensamentos que tinha ao olhar para ela, e por um momento Nádia esqueceu de como se respirava. Seu gosto para homens era muito bom, verdade seja dita. Caio era um dos mais bonitos. Era alto, claro, cabelos curtos na medida do possível para serem desajeitados ao natural. Ombros largos, barba rala, olhos negros. Magro. Sexy. Charmoso. —Não foi para festa por quê? – ela disse limpando a boca, antes que ele pensasse que estava babando — Não quis. Achei que seria bom ter a casa só para mim, para variar. – então ele queria a casa para trazer alguma vadia, com certeza. – Acho que você teve a mesma ideia, então. Não. Na verdade, Nádia se recusou a farrear porque Caio não estaria na festa. E para quem ela então se mostraria naquele vestido incrível, se ele não estaria lá para ver o que perdeu? — Eu acabei me esquecendo. Passei muito tempo na escola, com aquelas crianças e quando cheguei todos já haviam ido. – mesmo estando de férias, ela era o tipo de pessoa que não conseguia ficar sem fazer algo útil. Sempre tinha na bolsa algum livro que a fizesse pensar, e mantinha contato com uma realidade mais difícil que a sua, para não se deixar levar. — E estamos os dois aqui. – Que voz daquele homem! Cinco palavras e era como se ela estivesse nua na frente dele. A forma com falava a deixava sem fôlego. E para piorar a situação, e ele saiu de onde estava. Foi caminhando para a cozinha. Que era apertada, escura e em que Nádia se encontrava, tentando arrumar um jeito de parecer uma pessoa normal e não uma mulher louca por um cara que ela não via há anos. Ele passou por ela, momento onde ela sentiu aquele perfume, o mesmo de tempos atrás. Na verdade, nunca o esquecera. Para seu azar sua memória se apegava a cheiros e toda vez que saia na rua era uma chance que tinha de passar ao lado de alguém e sentir o cheiro que lembrava dele. Nunca fazia isso de propósito, mas as lembranças chegavam como um tapa na cara. Ela respirou fundo e se virou para observá-lo. Fez-se um clarão na cozinha, da geladeira que ele abriu para pegar água. Os dois em silêncio, e isso era mais desconfortável do que qualquer outra situação embaraçosa que ela já havia vivido. Tudo quase escuro novamente, ele fechava a geladeira e se virava para ela, enquanto de uma vez e sem copo, bebeu quase metade da garrafa de água. Ela não pode deixar de notar que algumas gotas escorreram pelo pescoço dele e isso deu dois segundos sem oxigênio para seu cérebro. —Como pretende passar a noite? – ela perguntou rápida e tentando fazer um tom que não desse a entender que a pergunta poderia se tornar um convite. Mas sua voz era sexy demais, e ela não sabia disso. Ele parou de beber água, limpou a boca e encarou Nádia. —Eu não sei. Como você pretende passar a sua noite? —Ler, talvez. Mas acho que vou acabar deitando na rede do lado de fora e dormindo por lá. Redes são confortáveis. – uma conversa! Era o que estavam tendo! E parecia mais fácil. Quanto mais se falava, melhor. —Deitar seria bom. Mas está um pouco frio lá fora e é perigoso. Ficar lá, sozinha. —O que você sugere? – Não conseguiu conter o ímpeto vadia sutil que surgiu nela. —Deitar ainda sim. Aqui dentro. No sofá. Posso te fazer companhia. Ela andou até ele, com a intenção de colocar o copo na bancada atrás de Caio, enquanto falava —Somos os únicos aqui. Vamos sentar e conversar então. – mas talvez seu tom de voz, ou a forma como andou até ele, fez com que caio soltasse a garrafa de água no chão e segurasse Nádia pelo braço, fazendo ela se virar para ele, rapidamente, e muito, muito perto. —O que acontece com a gente? – ele olhava tão fundo nos olhos dela, que era impossível que não pudesse ler seus pensamentos. —Culpa sua! – inevitável não descarregar as mágoas, quando ele tocava no assunto. —Minha? Culpa sua que sumiu depois de uma briga e nunca mais apareceu. —Você sempre soube onde me encontrar e nunca quis. —Eu quis, mas você é orgulhosa demais, e eu não ia correr atrás de você, de novo. —Você preferiu ficar sentando esperando, só que acompanhado né? —Você estava ocupada, beijando seus amigos bêbada. —Culpa sua. —Faz tanto tempo. Eu lembro que a gente conversava muito. E se beijava muito também. Você não sentiu minha falta? - ia chegando mais perto e Nádia olhava ora para sua boca,ora para seus olhos. Mas ainda não era boba e foi devagar até o ouvido dele. —Eu senti. Assim como você deve ter sentido. Procurar em todas aqueles garotas, eu? Você deveria saber que não tem como outra mulher causar em você o que eu causo. – aquilo foi o suficiente para os olhos dele se fecharem, e ao abrir, segurou Nádia pela cintura, trazendo-a colada nele. E a beijou.

domingo, 18 de agosto de 2013

Invisível

Eu queria escrever algo para você. Mas você não vai ler. Queria te obrigar a ler. Posso ir lendo em voz alta atrás de você? Posso jogar folhas de papel com todas as coisas que eu quero te dizer pelo seu caminho? Você lereia se soubesse que vem de mim? Você leria se soubesse que escrevi com a alma e o coração? E as mãos tremiam. Eu não vou passar a limpo que é para você ver. Tatuado na minha letra trêmula. Posso te enviar uma carta e você não rasgar quando ler meu nome? Posso curar todos os erros do passado com meia dúzia de frases que fazem algum sentido? E se eu fizer uma música, você lê a letra? E se eu recitar um poema e sair correndo, você ouve de coração aberto? E se eu disser o que houver de mais bonito no mundo, e colocar seu nome, bem grande na frente de tudo, você vai ler? E se eu pedir para alguém te contar uma história que saiu da minha cabeça, mas você não precisa saber... Você vai ouvir? E se eu fizer do meu blog sua homepage você fecha a aba correndo? E se eu lançar um livro, você lê algo além do título? Eu tenho tanta coisa para dizer... Eu queria escrever algo para você. Mas você não vai ler.

domingo, 11 de agosto de 2013

Amém

Entrou na Igreja e viu em um canto uma caixa de vidro. Dentro haviam velas eletrônicas, que acenderiam quando a pessoa inserisse moedas. Tirou uma do bolso, colocou e viu a vela se acender rapidamente. Até tremulava. Colocou outra moeda e mais uma vela se acendeu. Achou bonito como as duas velas juntinhas brilhavam. Rezou. Uma vela era por ele, a outra para si. Pediu o mesmo para os dois. Os dois em uma só oração. A Igreja estava vazia e quase escura. O silêncio era grande, mas não pesado. Se sentiu confortável. Queria ficar olhando para as velas, que juntas iluminavam pouca coisa. Mas não conseguiu. Foi embora sem saber qual apagava primeiro, para ter sempre na mente a visão delas juntas e acesas.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Se virar

Coloca um ponto final nisso daí. Mas não coloca muito ponto final não, porque aí vira reticências. Vai lá e faz algo por você, só por você. Cê sabe ser livre né minha linda? Sempre se virou bem, que orgulho! E agora que é preciso, você tem que conseguir viu? Fraquejar é fácil, cair em desespero e chorar então! Difícil é se levantar e fazer algo por você. E só por você. Mas você tem fé. Eu boto fé em você! Nesse seu cabelão loiro, nesse jeito que você tem de falar com as pessoas. Cativa todo mundo fácil. Esses olhos inchados de choro que tão afastando todo mundo, cê sabia? Já pensou em mudar? Muda. Muda já. Muda agora. Muda sem medo. Nada te prende. O Mundo é teu. Corre atrás, vai buscar. Ficar se lamentando só atrasa tua vida. Guarda a tristeza no bolso, porque você não merece isso não! Nunca mereceu, cê sabe né meu bem? Cê sabe quem é. Não esquece! O que você deseja? Deseje mais. Deseje tudo. Conquiste o que der. Se não tem quem corre por você, corre por si mesma. Usa aquela roupa que todo mundo detesta e você ama. Você é só. E isso é lindo. Agarra quem te faz bem, que eu sei que você é cheia de amigos, lindona! E vai pegar o que te pertence. O que não é seu fica no passado, lugar de coisas que não deram muito certo. O seu futuro: ah o seu futuro! O seu futuro é ser feliz. Como nunca. Como você sempre mereceu.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Tanto faz

Ele escolheu o dia de céu azul para não se importar. E não se importava. Passaram pessoas por ele. Pessoas que ele não gostava, e ele não se importou. O atraso do ônibus, o lixo na rua: ele não se importou. O fone quebrado no meio do caminho para casa também não importou. Aquele exercício difícil de física que ele errou: sem drama. Quando as pessoas não ligavam para a opinião dele: ele não se importou. Também não importava a grosseria alheia nem a gentileza. Nem se iria chover, ou se ele fosse demitido do trabalho. Alguém disse "bom dia" e ele respondeu com um sorriso. Uma garota o olhou na rua, e ele não se importou. As horas iam passando e tudo o que ele sabia fazer era sobreviver e quase não sentir. No fim do dia, a mulher que ele amava foi conversar com ele. Ela era inconstante e ele não sabia em que palavras dela podia acreditar. Talvez o amasse, talvez só o queria para dar uns beijos. Ela sorria e falava coisas bonitas. Logo menos, ela iria agir como se nem o conhecesse. Ele quase se importou.

sábado, 27 de julho de 2013

Escrito em março.

O olhava enquanto ele dizia com palavras tristes, do sofrimento que um dia teve. Não dava detalhes sobre, mas ela tinha olhos grandes para notar nos dele, que uma mágoa existia. Não podia fazer nada, mas queria fazer muito. No silêncio que se fez, ela queria poder tirar dele o que havia acontecido, mudar o passado, que ocorreu bem antes dela pensar em existir. Diante das poucas atitudes que podia tomar, o abraçou e colocou sua cabeça sobre seu colo, como quem cuida de uma criança. Acariciou seus cabelos, fez o que pôde. Cuidou da dor de quem amava.

Se entender, me explique (2)

Tenho medo do tempo perdido. É o que mais temo. Das chances desperdiçadas. Daquele que poderia ser o amor da sua vida e não foi. De acordar um dia e ver que eu poderia ter tido tudo. E neguei. Fui negada. Tenho um prazer em viver. Dias chuvosos me alegram, dias de sol também. A calma de ficar sozinha me agrada. A companhia dos amigos também. E por saber o quão preciosa é a vida, o quão sortuda eu sou por estar aqui, que temo. Cada segundo desperdiçado é uma eternidade. Não quero perder tempo. Não que sofrer seja uma negação da vida, pelo contrário. Mostra o quanto sinto na pele tudo. Mas nunca suportei a ideia de finais tristes. Nunca suportei a ideia de não ser feliz, de não escolher aquilo que me dá calafrios, que faz as pernas tremerem. Quero que a vida seja sempre cheia de emoções. Que o sorriso seja o maior possível, mesmo que para isso existam lágrimas amargas no final. O importante é que tudo que eu pude fazer, foi feito. Escolher sempre o que é bom. O que me faz feliz. Permitir que os outros se aproximem. Não rejeitar quem só quer meu bem. Não ter a sensação de que mesmo com tantas pessoas, eu possa estar sozinha. Não. É uma questão de escolha. Escolhi pessoas verdadeiras para comigo estarem. E cuido delas para que se aproximem. E que gostem de ficar. E quem tem medo de viver? Medo de amar como nunca, medo de alguém descobrir quem você é. Medo de ser feliz de verdade. Gente que inventa um papel. Não ignoro os sentimentos que levaram uma pessoa a se esconder dos outros. Mas tenho pena de que ela perceba tarde demais que a vida é algo muito belo para ser desperdiçado. E muito grande, para ser pequeno. Sorte daqueles que podem estar tão próximos de mim que me conhecem. Não são todos. Alguns vão embora. Alguns não tem força suficiente para aguentar uma vida que não seja de mentira. Uma pena. Para quem ficar; não há arrependimentos. Terão tudo de mim. Que assim seja.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sem cobrar perfeição

É batata. Abrir uma revista feminina e dar de cara com ordens de como ser, como se vestir, como arrumar um namorado. Fotos daquelas mulheres (quase) perfeitas, com cabelos brilhantes e sorrisos irreais. Modelos, cantoras, it girl do momento. Produtos que você deve usar para ficar como elas, frases que nunca se deve dizer no primeiro encontro e mais umas cem páginas que servem de manual da mulher moderna. Um kit de sobrevivência. Tudo o que você precisa saber para ser bem sucedida, linda, rica e feliz. Qualquer edição, qualquer ano, o formato é um só: ditar as regras. Quantas vezes você já agiu da forma como a revista te orientou, e não do jeito que queria agir? Amiga, cá entre nós, você acredita mesmo em todo cabelo que vê nas revistas? Claro que existem mulheres fabulosas. Claro que existem coisas que não se diz para o chefe, produtos que melhoram seus cabelos e te deixam mais feliz. O que não existe é uma regra que se encaixe em todos os estilos de vida, em toda mulher. Por que você não se livra dessas correntes invisíveis? Quer usar roupa fora de moda? Usa. Quer ir morar junto no primeiro mês de namoro? Vai. Quem define o certo e o errado é você. Esses limites padrões não te servem! Imagine só, se as mulheres mais incríveis do mundo tivessem seguido regras, se poupado de coisas porque outra pessoa disse que é-assim-que-tem-que-ser? Grandes descobertas, grandes aventuras e grandes pessoas surgem por meio de erros, de tentar algo diferente. Mas, antes que me processem, me atirem chapinhas ou qualquer coisa do tipo, que fique claro: sou a favor das revistas. Pessoas precisam de entretenimento, inspirações e (algumas delas) noção. E ler é a melhor forma de agregar valores e fazer pensar. O que não acredito, é que você, cheia de sonhos, vontades, preferências e opiniões, queira sair dessa linha de produção. Celebremos as esquisitices, os erros, os dias de cabelo péssimo e as escapulidas da dieta. Porque não é por nada não, mas ser perfeita deve ser um saco!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Muito grande para parecer pequeno

O ar gelado da noite sempre trazia nele, um sentimento confuso. Uma felicidade doída. Uma saudade dessas que a gente tem que aprender a lidar. Podia sentir a grama nos seus pés, aquele misto de prazer e um certo arrepio. olhou para cima, e viu aquele céu negro. Pesado, imenso. Ele morava na cidade grande. E como quem mora na cidade grande, nunca olhava o céu, e se olhava, não via estrela, só uma poluição que incomodava. Com o passar do tempo, o aumentar da pressa, aprendera a olhar para o chão. Para os seus pés, seguros de si, sempre sabendo onde ir. O mais alto que olhava, era na direção dos olhos. Um metro de sessenta e cinco de visão de mundo. Nessa altura tudo era pressa, prédio, carro, gente indo, vindo, uns que sorriam, um que chorava. Tudo era concreto. Era gente não tão bonita, não tão bem vestida. Era gente que morava na rua. Ele, dono dos seus 1,65, reparava nesses detalhes. E tinha o medo. Medo de ficar escuro, perigoso. Medo da noite. Medo do mundo. Foi quando deitado naquela montanha que só podia existir em Minas, no silêncio que só pode haver quando todo mundo se entende, ele percebeu. Percebeu, ao olhar o negro céu, pesado, imenso, escuro como ébano; que haviam estrelas. Minúsculos pontos prateados, como se em um grosso nanquim houvessem derrubado um brocado, uns brilhantes. Eram tão pequenas quanto as pessoas da cidade grande. E numerosas também. Verdade mesmo, que só apreciam quando a luz dos prédios e dos postes se apagavam. Verdade também que quase ninguém parava para reparar nelas. Mas estavam lá. Eram como um sorriso naquele céu que se impunha. Aquele céu assustador, que tampava todo mundo, como que sempre avisando que havia algo maior. De repente, ali tão sozinho e pequeno, deitado na grama de uma montanha que havia levado anos para ter se formado, olhando para aquela imensidão toda, ele se sentiu enorme. Ele tinha que ser alguém muito grande para suportar aquele beleza toda. Sem medo. Ele estava em casa.