domingo, 25 de maio de 2014

(Todo) dia

Suas aflições tinham datas. Segunda-feira era o dia propício para pensar no quanto havia para se fazer durante a semana. Às vezes isso nem era aflição, era salvação. Na terça ela se perguntava sempre “e se”. E se tivesse escolhido outra coisa, outras pessoas... No meio da semana arrancava forças não sabia de onde para tentar ver o lado bom, mas era sempre na quarta que sentia falta de algo maior. Na quinta havia o prenúncio de algo bom, mas com o sentimento de ter muito a fazer e conseguir pouco. Na sexta buscava outra coisa, que fizesse com que ela esquecesse o quanto a solidão podia chegar forte e silenciosamente e se instaurar nela. Aos sábados queria ser outra pessoa. Talvez mais amada. Domingo era o dia de não encontrar perspectivas e se sentir cansada de tentar. Mas meu bem não sabia que esses pensamentos iam e viam. Eram dias ruins, não uma vida que não valesse a pena. Mas para quem sente, tudo é grandioso. Na maioria das vezes sua aflição era a aceitar tudo resignada. Não esperava nada de ninguém. Ninguém esperava nada dela.