segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Mais beleza para nós

Luzia era uma menina pobre de coisas bonitas. Nunca na sua vida tinha visto um céu lindo, nunca tinha visto uma árvore cheia de vida, nunca tinha cheirado uma flor, escutado uma bela canção ou visto algum rosto lindo no meio da multidão cinzenta. Luzia era bem medíocre, para dizer assim, rápido e sem enrolação. Ela não sabia o que era amar algo, apreciar uma comida, conversar, ler. Nunca tinha visto beleza em nada na sua vida. Nunca tinha olhado para algo bonito. Nunca tinha visto alma dentro dos olhos de ninguém, ou cantarolado uma canção que fosse a mais bela de todas.
Um dia Luzia realmente abriu os olhos e enxergou com o coração. Havia uma imensidão azul, nuvens por toda parte. Haviam árvores grandiosas e belíssimas. Flores delicadas e perfeitas, cheirosas... Havia o gosto de uma refeição deliciosa em sua boca. Havia areia macia nos seus pés. Havia o barulho do mar, o cantar dos pássaros. Também havia alguma música incrível, que fez com ela se perturbasse por dentro. De repente, tudo era bonito. Rostos de pessoas tão leves e doces, tão bonitos. Olhos grandes, olhos que sorriam. Gargalhadas, abraços. Luzia se sentiu abraçada por tudo isso.
Era muita coisa bonita para se amar. E Luzia ficou extasiada, de tanto amor bonito. Era mais do que a pobre menina podia suportar, a vida era linda demais para ela. Luzia não aguentava tudo isso de beleza para amar. E então ela ficou tão cheia de amor que não coube mais nada para se apreciar. Ela caiu no chão, exausta, se perguntando: "Desde quando a vida é tão linda assim?"

domingo, 8 de janeiro de 2012

Se entender, me explique.

Preciso me permitir. E te permitir. Mas, preciso que você e permita permitir.
Por muito tempo andei por caminhos desconhecidos. Vaguei, procurando o que eu acreditava querer. Estava tomada de vontade de achar, exasperada. No entanto nada me satisfazia. E quando achava o perfeito, recusava, temerosa. Temia achar o objeto da busca. Nunca me mostrava, ficava sem revelar meu rosto. Estava oculta por achar que me mostrava. Só foi então que percebi. Alguma coisa ficou clara em mim. Eu achava aquilo que procurava em vão, afinal, eu mesma, a criadora da busca estava oculta pelas descobertas.
Alguém precisava me achar. E para isso, daquele momento em diante eu me permiti ser descoberta.
E vivo em eternos encontros.

É gostoso quando alguém acha a gente. Uma sensação assim de liberdade e vaidade. Você se perfuma quando alguém te descobre. E sorri sabendo.
Sou assim. Só sorrio quando sei que fui achada. A gente não pode dar nossos dentes para quem não nos vê. Ou, quem sabe, é dando os dentes que somos vistos.
Pretendo sorrir sabendo. E achando... E me encontrando... E me deixo assim, desmarcada, descoberta, sorridente e permitida.