quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Vibrante da primeira letra até o último ponto final

Ela entrou sem pestanejar e jogou sua bolsa colorida no sofá. Ainda bem que a casa é loft, pensou indo para cozinha pegar um copo de água e observando a sala vazia e quase mal iluminada, exceto pela janela que deixa transparecer alguma luz do luar. Bebeu, devagar, o líquido cortando a garganta, como se não estivesse acostumada a algo tão simples. Aquelas férias deveriam ser um espetáculo, certo? Casa na praia com os amigos mais íntimos e alguns desconhecidos que, se tudo desse certo, seriam solteiros e bonitos. Tudo estaria, de fato, perfeito se não fosse por um motivo: Caio. Um ex-romance arrebatador que terminou de modo efêmero e deixando altíssimas mágoas combinadas com tensão sexual. Na mesma casa. Tentando conviver pacificamente com o único cara que ela realmente gostou, na mesma casa. Era necessário controlar todos seus movimentos quando ele estava por perto, para não correr o risco de pular nos braços dele o beijar até que se esquecessem do que os levou ao fim. Seria mais fácil se ela pudesse controlar, também, o ciúme que sentia quando qualquer espécie feminina chegava perto dele. E então estava lá, bebendo a água e olhando para a sala relativamente grande, onde os sofás ficavam virados um para o outro e a televisão era um simples objeto de decoração. Ninguém ficava lá. Exceto quando voltavam das festas e se reuniam para conversar e tentar esquecer do que fizeram. Quando quem voltava? Todo mundo. Os amigos, o ex, os amigos do ex. Todos os adolescentes cheios de hormônios que estavam hospedados na casa para férias incríveis, antes do primeiro ano na universidade. Ela ainda pensava sobre todos esses aspectos, e de como tinha sido infortunada em ficar na mesma casa do cara que ela jurou que nunca mais veria na sua vida. E não porque não gostaria, mas porque eram tão diferentes que suas vidas não poderiam jamais, se cruzar novamente por um simples acaso do destino. E que acaso! Estavam os dois lá, sob o mesmo teto, respirando o mesmo ar, tomando café na mesma mesa e tendo que saber exatamente com quem cada um ficava, e como ficava. As férias eram para que Nádia se divertisse. Badalar até de madrugada, tomar quantas tequilas ela achasse necessário e dormir na praia se precisasse. Mas ao ver seu ex-(alguma coisa que deveria ter sido, mas não foi) ela simplesmente não conseguiu controlar o ímpeto de beijar qualquer cara que aparecesse. Qualquer um não. Os mais bonitos, de preferência. E quando não haviam os mais bonitos, qualquer outro que fosse homem e que Caio poderia saber. Já estava uma paranóia. Ela tinha que sair. Toda noite. Não podia dar a entender de que preferiria ficar em casa, vendo televisão enquanto ele saia e ficava com quantas vadias fossem. Era necessário badalar, e além: beijar. Mais além do que beijar o homem mais gato que ela pudesse encontrar na festa, era necessário estar deslumbrante. Nada na roupa, maquiagem, cabelo ou até mesmo no modo que ela se comportava, falava, andava e sorria, era despretensioso. Tudo tinha um objetivo, uma meta: Caio. E tentando chamar a atenção de modo “discreto” dele, acaba não sendo difícil atrair a atenção de qualquer homem que estava por perto. E com isso seu saldo: dos sete amigos homens na mesma casa que ela, quatro Nádia já havia beijado. Em momentos atenuantes, de fato. Mas beijo é beijo e isso não muda. A porta da sala abriu como se tivesse sido chutada, e pela cara com que Caio entrou, ela provavelmente havia. Ele andou até a sala e suspirou. Virou-se e viu que Nádia o observava, ainda com o copo na mão, em silêncio. Não havia ninguém mais em toda a residência, ou talvez perto, no jardim, na praia. Ninguém. Todos seus amigos estavam na grande festa de algum desconhecido que morava longe. Ela tentava absorver essa informação, junto com a surpresa. Não esperava ficar tão só com ele. Parece que Caio também não esperava por isso. Parecia um pouco incrédulo de vê-la ali. Nádia estava com uma regata branca, que despretensiosamente valorizava seus seios. Vestia um jeans justo que modelava seus quadris e suas coxas. Seu cabelo castanho claro estava desarrumado em um coque baixo, que deixava alguns fios soltos, a única coisa que tapava seu pescoço fino e moreno. Olhava para ele com aqueles olhos enormes, cor de mel. E piscava. Cílios que hipnotizavam. Cílios? Quem repara em cílios? Ele reparou. Assim como reparou que a boca, vermelha de Nádia estava molhada. De água, que era o que ela bebia, mas poderia ser outra coisa? Ele balançou a cabeça para afastar os pensamentos que tinha ao olhar para ela, e por um momento Nádia esqueceu de como se respirava. Seu gosto para homens era muito bom, verdade seja dita. Caio era um dos mais bonitos. Era alto, claro, cabelos curtos na medida do possível para serem desajeitados ao natural. Ombros largos, barba rala, olhos negros. Magro. Sexy. Charmoso. —Não foi para festa por quê? – ela disse limpando a boca, antes que ele pensasse que estava babando — Não quis. Achei que seria bom ter a casa só para mim, para variar. – então ele queria a casa para trazer alguma vadia, com certeza. – Acho que você teve a mesma ideia, então. Não. Na verdade, Nádia se recusou a farrear porque Caio não estaria na festa. E para quem ela então se mostraria naquele vestido incrível, se ele não estaria lá para ver o que perdeu? — Eu acabei me esquecendo. Passei muito tempo na escola, com aquelas crianças e quando cheguei todos já haviam ido. – mesmo estando de férias, ela era o tipo de pessoa que não conseguia ficar sem fazer algo útil. Sempre tinha na bolsa algum livro que a fizesse pensar, e mantinha contato com uma realidade mais difícil que a sua, para não se deixar levar. — E estamos os dois aqui. – Que voz daquele homem! Cinco palavras e era como se ela estivesse nua na frente dele. A forma com falava a deixava sem fôlego. E para piorar a situação, e ele saiu de onde estava. Foi caminhando para a cozinha. Que era apertada, escura e em que Nádia se encontrava, tentando arrumar um jeito de parecer uma pessoa normal e não uma mulher louca por um cara que ela não via há anos. Ele passou por ela, momento onde ela sentiu aquele perfume, o mesmo de tempos atrás. Na verdade, nunca o esquecera. Para seu azar sua memória se apegava a cheiros e toda vez que saia na rua era uma chance que tinha de passar ao lado de alguém e sentir o cheiro que lembrava dele. Nunca fazia isso de propósito, mas as lembranças chegavam como um tapa na cara. Ela respirou fundo e se virou para observá-lo. Fez-se um clarão na cozinha, da geladeira que ele abriu para pegar água. Os dois em silêncio, e isso era mais desconfortável do que qualquer outra situação embaraçosa que ela já havia vivido. Tudo quase escuro novamente, ele fechava a geladeira e se virava para ela, enquanto de uma vez e sem copo, bebeu quase metade da garrafa de água. Ela não pode deixar de notar que algumas gotas escorreram pelo pescoço dele e isso deu dois segundos sem oxigênio para seu cérebro. —Como pretende passar a noite? – ela perguntou rápida e tentando fazer um tom que não desse a entender que a pergunta poderia se tornar um convite. Mas sua voz era sexy demais, e ela não sabia disso. Ele parou de beber água, limpou a boca e encarou Nádia. —Eu não sei. Como você pretende passar a sua noite? —Ler, talvez. Mas acho que vou acabar deitando na rede do lado de fora e dormindo por lá. Redes são confortáveis. – uma conversa! Era o que estavam tendo! E parecia mais fácil. Quanto mais se falava, melhor. —Deitar seria bom. Mas está um pouco frio lá fora e é perigoso. Ficar lá, sozinha. —O que você sugere? – Não conseguiu conter o ímpeto vadia sutil que surgiu nela. —Deitar ainda sim. Aqui dentro. No sofá. Posso te fazer companhia. Ela andou até ele, com a intenção de colocar o copo na bancada atrás de Caio, enquanto falava —Somos os únicos aqui. Vamos sentar e conversar então. – mas talvez seu tom de voz, ou a forma como andou até ele, fez com que caio soltasse a garrafa de água no chão e segurasse Nádia pelo braço, fazendo ela se virar para ele, rapidamente, e muito, muito perto. —O que acontece com a gente? – ele olhava tão fundo nos olhos dela, que era impossível que não pudesse ler seus pensamentos. —Culpa sua! – inevitável não descarregar as mágoas, quando ele tocava no assunto. —Minha? Culpa sua que sumiu depois de uma briga e nunca mais apareceu. —Você sempre soube onde me encontrar e nunca quis. —Eu quis, mas você é orgulhosa demais, e eu não ia correr atrás de você, de novo. —Você preferiu ficar sentando esperando, só que acompanhado né? —Você estava ocupada, beijando seus amigos bêbada. —Culpa sua. —Faz tanto tempo. Eu lembro que a gente conversava muito. E se beijava muito também. Você não sentiu minha falta? - ia chegando mais perto e Nádia olhava ora para sua boca,ora para seus olhos. Mas ainda não era boba e foi devagar até o ouvido dele. —Eu senti. Assim como você deve ter sentido. Procurar em todas aqueles garotas, eu? Você deveria saber que não tem como outra mulher causar em você o que eu causo. – aquilo foi o suficiente para os olhos dele se fecharem, e ao abrir, segurou Nádia pela cintura, trazendo-a colada nele. E a beijou.

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