terça-feira, 22 de junho de 2010

Queda Livre

Caiu. De uma forma rápida, magistral. A bicicleta estava em alta velocidade. Ele não esperava pela pedra no meio do cominho. Justo na decida? Mas não havia tempo para parar, a queda era consequência da intensidade. Queria descer rápido, sem se importar com os obstáculos. Mas a maldita pedra tinha o parado. Na verdade, passou por cima da bicicleta, e caiu girando. Uma queda invejável. Podia ver as árvores de relance, e ao tocar o chão sentiu a velocidade diminuir. Não fazia esforço para parar. Queria correr riscos, aguentar as consequências. Deixou rolar, raspar nas pedras. Fechou os olhos, queria apenas sentir. Havia grama, e algumas coisas machucavam. Foi tudo muito rápido. Até que novamente, havia outra pedra. No começo ela fora causadora de tudo. Deu o impulso para aquela queda alucinante. Agora ela interrompia o giro no chão. Bem na altura dos ombros. Parou bruscamente. Deitou de barriga para cima. Não porque era mais confortável. Mas porque a pedra quis assim.
De olhos fechados. Sentiu a dor em cada parte do seu corpo frágil. Respirava fundo. Tudo doía. E sua perna sangrava. Nos joelhos. A calça rasgada. Ele sentia o sangue pulsar. Quente, escorria pela perna. Seu rosto. Seu rosto sangrava. Tudo doía. Respirar doía. Mas mesmo assim, ele sorriu.
Estava vivo, não estava? E era bom se sentir assim. Seu corpo lutando para continuar. Ele não se importava. Gostava de testar seus limites. Sempre um pouco mais. Sempre além de algo. Ele sorria. De olhos fechados, sentia o sol queimar sua pele, e imaginava que o mesmo sol, iluminava seus dentes. Naquele sorriso torto. Aquele sorriso que só quem descobre uma verdade pode ter.
Abriu os olhos. Céu azul, sol forte. Alguns pássaros. O silêncio da floresta. O cheiro do sangue. A dor no corpo. Sorriu, como se tivesse atingido o efeito esperado. Começou a rir. Se levantou com dificuldade. E riu ainda mais alto. Em pé, olhou para o morro que acabara de descer rolando. Riu mais alto. E começou a subir para mais uma vez terminar sua descida de bicicleta. Só para provar que nada poderia fazê-lo parar.

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