domingo, 28 de novembro de 2010

Simples

A total falta de jeito dela com crianças, o encantava. Manuela tentava brincar com aquele pequeno ser, que parecia mais forte do que ela. Não lhe dava atenção, jogava os brinquedos no chão e emitia sons indecifráveis. Ela apenas sorria e passava a mão em sua cabecinha. Luís observava a cena escondido atrás da porta. Álias observá-la era uma das coisas que mais o deixava feliz. Como era pura e simples. Simplicidade... Uma qualidade tão pouco apreciada. Nela, era tão encantador. A forma como sorria, sem preocupações, o jeito que seus cabelos castanhos lhe caiam no ombro, leve. O modo como mexia as mãos. Seu jeito doce e ao mesmo tempo instigante de andar.
Decifrá-la era fácil. Sentia. E sabia o que sentia. Não tinha cicatrizes da vida. Não tinha medos, não tinha frustrações. Era puramente simples. Não sabia lidar com crianças e não escondia isso. Amava Luís, e apesar de não dizer todos os dias, ele sabia porque, quando chegava sentia o sorriso e o olhar apaixonado dela. Manuela ficava vermelha, o corpo todo tremia quando ele estava por perto. Ela não se importava em esconder e esses detalhes Luís nunca esqueceria.
A observava em sua perfeita imperfeição. A observava de longe, não querendo interferir naquele momento tão dela. Mas acabou emitindo um som sem querer, e sentiu os olhos dela pousarem sobre ele, rápidos.
Levantou-se e disse a Luís:
— Você estava escondido me olhando? – e sorriu, os dentes brancos contrastando com seus olhos negros. Sua voz extremamente doce e calma.
—É. Estava.
—Por que?
—Porque eu gosto de te ver.
—Por que?
—Porque a gente gosta de ver aquilo que ama.
—Então, você me ama?
—Eu amo.
—Eu já sabia.
—Sabia como?
—Sabendo. Amor a gente sente. Você sente o meu?
—Eu... Eu não sei...
—Eu te amo.
—Tenho que sentir o amor que você tem?
—Pega na minha mão. E diz o que sente.
—Você treme um pouco. E está suando frio.
—Você sente isso então?
—Sim.
—É amor. – e sorriu, simplesmente.

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