terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O agora já foi

Ao abrir os olhos, sentiu que a vida lhe pertencia. Era sua por completo, sem deixar brechas. Era tempo de pegar o que era seu para si. Não culpar os outros por não terem dado a devida importância. Era tempo de ser por si só. Existia algum prazer egoísta e delicioso em se pertencer. Nunca estar só quando se estava apenas consigo. Por hora já bastava. Sorriu o sorriso de quem descobre algo. Olhou em volta com olhos que se surpreendiam com as mesmas coisas. Tudo era único. Tudo o que doía era algo. Tudo o que vivera seria lembrado como vultos. Tudo o que fazia sorrir seria guardado com carinho e afeto. Só. Tudo o que se passava naquele momento era seu. O esquecimento de tristezas passadas aconteceu sem que se esforçasse. No íntimo, ela se protegia sem saber. O passado estava morto. E o passado não importava muito. Alguns fatos sim. Algumas imagens que nunca deixariam sua mente. Mas tudo o que passou eram histórias. Tudo o que foi não é mais. Não existe um universo paralelo onde momentos se eternizam. Eles são efêmeros. E isso, era algo bom. Um alívio, uma recompensa, uma oportunidade. A eternidade é um segundo e nunca mais. Estar pronta. Nova. Como alguém que acaba de chegar ao mundo e quer estreá-lo. Sentir tudo como se o fizesse pela primeira e vez e nunca se acostumar. A vida estava lhe dando outra oportunidade, e ela não queria perder tempo. Levantou-se da cama e tudo o que viveu foi à flor da pele.

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