quinta-feira, 17 de abril de 2014

Moda de viola. Bala de coco. Beijo na boca.

Algumas pessoas dançavam. Os vestidos das moças rodavam, e os floridos pareciam espalhar as flores pelo ar, deixando tudo perfumado. Os sorrisos só eram interrompidos para pronunciar as palavras da música. As mãos dançavam soltas, leves, como se tivessem vida própria. Os cabelos soltos voavam e pareciam acompanhar a viola. A roda seguia animada, agitada, entrando naquela madrugada fria de junho, aquele luar imponente e aconchegante. Havia a fogueira que dava luz e calor. Mas o calor mesmo vinha dos olhares trocados durante as danças. Da moça de vestido azul que olhava para o cavalheiro da viola. E ele, tímido, tocava seu instrumento como se não notasse os olhos castanhos em cima dele... Alguns riam. Alto. Bebiam a pinga quente, que descia queimando e os tornava mais felizes. Algumas crianças corriam atrás de doces, e caiam e se machucavam e não se importavam. Uma menina em especial dançava alegremente, como se estivesse sozinha, como se a vida fosse uma notícia boa. Segurava seu vestido amarelo de fitas com as mãos magras e pálidas. Rodava, girava, rodopiava e de novo e de novo... Seu cabelo há muito havia se desprendido do coque que fizera e dançava solto, louro e livre como era o espírito da jovem. Ela sorria, de olhos fechados. Sentia o vento da noite no rosto e amava o instante. Sentia as pernas tontas por causa da pinga e amava a terra no chão. Estava descalça, os pés vermelhos do quase barro, mas continuavam a dançar, criando seus movimentos conforme a música... Quando abria os olhos via aquele povo todo na festa. Seus sentidos estavam apurados. Cheiro de milho, de bebida forte, gosto de pimenta na boca, via várias cores a dançar, sentia a atmosfera da noite em seu pescoço, ouvia a moda de viola entrar em seu coração... Foi quando chegou um rapaz. Camisa xadrez, cavanhaque, jeito de homem que sabe das coisas, olhar confiante e nariz bonito. Moço bem feito. Tomou-a pela mão e lhe entregou o pacote que tirou do bolso da camisa. Sorriu meio torto para finalizar o ato que pareceu ensaiado. Ela retribuiu o sorriso automaticamente. O pacotinho era verde de pintinhas vermelhas. Abriu o papel e só nessa hora parou de dançar. O mundo continuava na moda de viola, mas ela e ele estavam em uma bolha bem frágil. Bala de coco. Três balas de coco. Será que ele pegou em aniversários? Ela sorriu para ele. Colocou uma na boca, querendo que durasse para sempre. Sentiu o docinho ir espalhando pela língua até a garganta. Guardou as outras no decote do vestido. E ainda com a bala na boca tentou sorrir para o rapaz do cavanhaque. Ele chegou mais perto e se beijaram. Cheiro de madeira do perfume dele, gosto de bala de coco na boca, tudo escuro pelo seus olhos fechados, a atmosfera da noite entrava em sintonia com as mãos dele na sua cintura, a moda de viola continuava...

Nenhum comentário: